Advertência, a vida que vamos desbobinar contém passagens eventualmente inspiradas.

Hoje trago-vos uma conversa com um “símbolo” dos anos 90. O André Neves mais conhecido como MAZE, um dos membros dos Dealema do Porto.




Símbolo porquê? Antigamente não existia a informação que existe hoje. ou melhor, o acesso não era o mesmo e cada um tinha de pensar por si e pesquisar o conhecimento, saber, opinar, consciencializar.. 
Penso que seja uma das inúmeras razões de terem nascido os Dealema, a identidade contra-cultura. Era utópico sentirmos que nós podemos fazer tudo a que nos propormos.


Desde os tempos do hardclub das noites longas do Hc. 

O paralelismo que houve sempre entre o Hip Hop de rua e o Hardcore, permitia a partilha de palcos, a sintonia de valores, o bom ambiente.

Enquanto mentes pobres lançam boatos podres, orgulho de nos ver lutar por causas nobres.

Poderia fazer infinitos quotes de músicas de Dealema. 
Ouve, numa sociedade podre e vazia tu podes te cultivar. Pensar pela tua própria cabeça.

Perguntam vocês, o que é que o Maze DLM tem a ver com o Alho Francês e perguntam bem. 
Para além de ser um dos actores principais da minha adolescência musical o Maze é Vegetariano, desde o momento em que descobri que seguia o Alho, até este post a dinâmica foi brutal. Fiquem com uma pequena conversa.


AF - Como nasceram os Dealema? 
MAZE - Os Dealema nasceram em 1996 da união dos projectos Factor X (Mundo e DJ Guze) e  Fullashit (Fuse e Expeão) comigo. Eles na altura já se conheciam, eu fui parar ao Segundo Piso através de amigos comuns, depois de algumas sessões no Bloco 24 e no Segundo Piso decidimos formar os Dealema e 21 anos depois ainda aqui estamos!


AF- Apresenta-te para quem eventualmente não te conhece! A evolução do André do passado ao actual.
MAZE - Nessa altura era um adolescente, tinha 16 anos e estudava artes visuais na Escola Soares dos Reis no Porto, apaixonei-me pelo Hip Hop, fazia Graffiti e escrevia umas rimas, nestes 21 anos que passaram muita coisa mudou, estudei, trabalhei, fiz música e fiz tudo isto ao mesmo tempo, várias vezes! O Hip Hop sempre foi a constante nas mudanças da vida, e continua a marcar forte presença no meu quotidiano, tive a sorte de fazer várias tours pelo país e de conhecer Portugal de lés-a-lés a fazer o que mais gosto, isso é deveras enriquecedor e impagável. Agora adulto e com outra maturidade entendo que por ter seguido este caminho me mantive jovem de espírito e feliz pois é o caminho que mais me realiza, estou a  cumprir o meu propósito, está longe de ser um caminho fácil o da criação, mas é o que mais me preenche. Gosto de me ver como uma pessoa multi dimensional e paralelamente à música dedico-me à Arte Marcial Tradicional Coreana - Maha Kuk Sool e gosto de dedicar tempo às artes visuais e à rádio sempre que posso. Sou um curioso, tenho uma constante vontade de aprender e de absorver a beleza do universo, acho que vai ser sempre assim.

AF - Qual a importância das letras de uma banda como os Dealema? Para os miúdos que as ouviam.
MAZE - A palavra é muito poderosa, ela transporta uma carga energética transformadora, e nós desde muito cedo fazíamos combinações de palavras capazes de transformar mentalidades, é por isso que conseguimos tocar tanta gente que nos ouve durante todos estes anos, independentemente de modas, de mediatismos ou mudança geracional, no fim do dia o que importa é a mensagem, e sentimento que a música provoca.

AF - Como surgiu o Vegetarianismo na tua vida? 
MAZE - O Vegetarianismo surge na minha vida aos 18 anos, eu nunca tive muita afinidade metabólica pela carne e nessa altura uma amiga vegan straight edge passou-me muita informação sobre os direitos dos animais e sobre outras matérias de transformação de consciência, naturalmente fui mudando a minha alimentação e desde então não voltei a comer carne ou peixe, nos noventas não era nada fácil ser vegano em Portugal e porque viajava bastante em concertos por todo o país nunca deixei de comer ovos e derivados do leite que eram a única opção muitas das vezes. Hoje em dia é muito mais fácil ser vegan, e claro que me imagino vegan, se o meu corpo assim o quiser, eu acredito que não devemos reprimir vontades, e devemos estar em sintonia com o que o nosso corpo nos pede é dessa forma que lhe vamos dar o que ele precisa para ser saudável.

AF - Creio que no hip hop / rap não existam muitas letras sobre o tema da nossa conversa. Tendo tu mediatismo,  o que isso pode fazer pelo movimento vegetariano? Quebrar alguns tabus., por exemplo.
MAZE - No Hip Hop ao contrário do Hard Core, não há muito sobre o tema, apenas um ou outro apontamento, mas como cada vez há mais vegetarianos acho que será um tema a ser abordado cada vez mais frequentemente, essa mudança de consciência já a faço há muitos anos directamente nas pessoas que me são próximas mas não pretendo carregar essa bandeira na música, posso eventualmente abordar o tema e quebrar alguns tabus como já o fiz antes mas não me vejo a fazer hinos ao vegetarianismo!

AF - Qual o teu prato favorito?
MAZE - Gosto muito de comida italiana, adoro todo o tipo de massas e pizza, mas se tiver de escolher um só prato, escolho a quiche de espinafres e cenoura da minha mãe, que é uma cozinheira exímia, aliás até fica aqui a receita para quem quiser! http://receitas-hodgepodge.blogspot


“ Nós Temos
Papeis definidos na sociedade
Nós Vamos
Elevar a juventude
Tentamos
Dar-vos uma identidade
Criamos
Música com atitude “

O que posso eu dizer desta conversa? Uma simpatia e humildade notável. Uma sapiência inspiradora. 

O Alho Francês é isto.


Esta imagem quer dizer mesmo o que estão a pensar. O Maze vai cozinhar para mim... mas isso fica para um post futuro.