O nome assusta de tão boring que é, parece aquela comida pesada que se odiava em criança!
Recordo-me de há uns anos valentes quando comecei a ter contacto com o pessoal vegetariano,  ia almoçar à SPN em Lisboa (na rua que desce para o cais sodré, tinha umas escadas intermináveis quase em caracol e éramos todos olhados de lado por usar roupa larga e ouvir música pesada, bons velhos tempos) e os pratos que havia sempre (pelo menos que me recorde) eram o rancho de soja e a jardineira de soja. O primeiro que comi foi a jardineira e odiei. Deslavada insípida, a soja aborrachada, não gostei mesmo nada e na altura não tinha qualquer ligação com a cozinha, era apenas um normal consumidor. Recordo-me de tirar um pouco do rancho dum amigo e adorar, tinha aquele sabor característico, aquele sabor que interiormente estava a espera, devia ser dos condimentos do chouriço de soja. Cada vez que lá ia comia sempre o rancho quando havia.



Voltando à jardineira, fiquei sempre com a ideia de um prato chato, incrível como as primeiras provas, os primeiros contactos com a cozinha vegetariana e vegan, quase como tudo na vida são fundamentais para o crescimento ou não da paixão / interesse.
Inclusive a namorada das primeiras coisas que comeu foi uma sandes de seitan cru, eu pessoalmente nem consigo conceber, óbvio que ia ficar aterrorizada. Sandes fria, sem textura, sem sabor... Terror, mas no final de contas adorou!

A jardineira, sem culpa própria, coitada ficou esquecida bem no baú no meu "cardápio", até um dia destes um amigo meu, um português que também trabalha comigo diz-me assim, "eu fartei me de comer jardineiras de soja, pareciam água quente com borracha", imediatamente lembrei-me do meu historial com ela e decidi compensá-lo dessas tormentas todas.
A jardineira de soja, depois da bolonhesa de soja deve ser dos pratos mais conhecidos. Vamos lá dar lhe o devido reconhecimento.

Hoje trago-vos uma jardineira de soja mais saborosa, mais apurada, mais reconfortante, que atinge a alma. Perdoem-me, aqui na Noruega estão uns 7 graus enquanto que aí estão uns 25º. Sim, espero que a jardineira não caia em "saco-roto", ou então vou andar a ver o site do tempo todos os dias até encontrar um dia que a jardineira caia bem e aí posto-a, TIMING is everything.


Ingredientes para 4 pax:

- 300gr Soja Granulada Grande
- 1 Cebola média
- 1 dente Alho
- 2 Tomates cacho
- q.b. Azeite
- q.b. Molho Inglês
- q.b. Sal
- q.b. Pimenta Preta
- q.b. Piri-piri em pó MARGÃO
- q.b. Vinho Branco
- q.b. Caldo Vegetais
- 2 Cenouras médias
- 2 Batatas doce médias
- 150gr Quiabos

Modo de Preparação:
  1. Numa panela com azeite bem quente coloco cebola branca picada e deixo alourar bem, mexendo sempre. Adiciono também alho picado sem pedúnculo.
  2. Junto cubos de tomate sem casca e deixo o tomate fritar um pouco. Junto um pouco de molho inglês.
  3. Coloco a soja previamente demolhada e bem espremida (demolho durante cerca de 40min com água quente, depois com o auxílio dum coador da massa pressiono a soja para libertar toda a água que absorveu), este processo é fulcral para no final o preparado não estar saturado de água e consequente menos saboroso. Tempero com um pouco de sal e piri-piri em pó.
  4. A soja ira absorver os líquidos todos e o preparado começa a ficar seco e consequente a temperatura aumenta, sempre a mexer. Quando está bem quente e começa a pegar ao fundo da panela junto vinho branco que irá refrescar e descolar todos os sabores. 
  5. Junto agora um pouco de polpa de tomate para dar uma pequena tonalidade de vermelho. Adiciono caldo de vegetais (caldo resultante da cozedura de vegetais tais como, alhofrancês, aipo, cebola, alho ou os vegetais que vocês gostarem mais), tudo o que se puder juntar em vez da água melhor será o seu sabor no final.
  6. Coloco cubos de cenoura e batata doce de tamanho similar e deixo cozer lentamente. Rectfico os temperos e vou mexendo de vez em quando. Deixo apurar lentamente.
  7. Quando a batata doce e a cenoura estão quase cozidas junto os quiabos cortados que irão dar o toque final ao prato, para quem sabe eu sou fã incondicional do quiabo, a cremosidade que contagia os pratos onde entra, amo tudo no quiabo. Os quiabos não precisam de muito tempo de cozedura e assim dão sempre um toque de frescura ao prato.
  8. Por esta altura o molho já está bem aveludado, a batata e a cenoura cozidas, o sabor bem apurado. Rectifico tudo e está pronta a ser consumida.
Uma jardineira sem ervilhas, eu sei. É lastimável, mas depois de estar habituado a comê-las fresquinhas não consigo usar congeladas. Sabor, aquele verde esmeralda, aquela frescura... Mas claro que poderão também adicionar ervilhas, só vai tornar o prato mais rico.

Reconforto para a alma a todos os sentidos!
De salientar que o meu amigo que almoçou connosco repetiu 2 vezes.
Consegui retirar-lhe o pesadelo da jardineira deslavada, a opinião dele nunca mais vai ser a mesma.