Arroz Manga

Noélia & Jerónimo

Algarve, quando pensamos no Algarve em termos de restaurantes o que é que pensamos?

Restaurantes mais virados para os turistas, clientes de só uma vez, má confecção, mau atendimento, é para despachar, não agradar, para clientes que provavelmente nunca lá mais voltarão.

Sem descurar a excelência de grandes restaurantes que existem no Algarve totalmente virados para a excelência, poderia mencionar alguns, nomeadamente os das estrelas Michelin e uns tantos quantos tradicionais que só os locais conhecem o seu real valor, mas estou me a focar na comida de conforto, aquela comida que transpira veracidade e emoção.

Contudo, como é óbvio esta situação é sempre subjectiva, depende dos gostos de cada um.

Aquele restaurante que nos faça sair de casa, salivar pelos pratos e com preços totalmente aceitáveis para a generalidade. Existem?

Sim, o Noélia & Jerónimo em Tavira.

Confesso que já tinha ouvido falar da Noélia em várias situações e até em alguns artigos de revista e jornais, que era uma cozinheira especial que respeitava integralmente os produtos, e que ia buscar os melhores e mais frescos produtos locais.

Não querendo ferir sentimentos, essa é a lengalenga que se ouve actualmente dos Chefs, sobre alguns será verdade mas para outros certamente não será. Será apenas comunicação de Marketing, fica sempre bem dizer que se usa coisas frescas e locais mas nem sempre é essa a realidade.

Como referi antes, sentia alguma relutância em ir experimentar, ou era uma grande surpresa ou grande desilusão.

Até que confiei mais uma vez, e ainda bem, no juízo de uma pessoa que respeito a opinião totalmente, inclusive seguindo-a, obrigado Maria de Fátima Moura.

Num processo totalmente cibernético, por vezes, raras vezes é certo o Facebook é uma ferramenta brutal em termos de conhecimento, seja empírico, ou profissional e consequentemente pessoal, adicionei a Noélia no meu perfil pessoal e esmiucei tudo o que tinha ouvido falar e queria desesperadamente provar o que estas duas mãos conseguiriam fazer.

Não nego, as expectativas estavam altas, queria mesmo sentir o sabor verdadeiro de tudo o que já tinha imaginado.

Do outro lado encontrei uma pessoa que a humildade e simplicidade é tanta que ao ler o conteúdo do chat chegamos a pensar “ é mesmo uma profissional de excelência que está do outro lado a falar assim ? “. Contrariando aquela imagem típica de Chef que é passada é da exigência / arrogância.

Pois bem, os tempos e as conversas passaram e tive a oportunidade de conseguir mesa no tão aclamado e procurado restaurante, que se não tivesse feito reserva certamente não conseguia mesa, ou tinha de esperar por uma vaga.

Literalmente fiquei nas mãos da Noélia, provei tudo o que me quis dar a provar.

Que posso dizer? Fiquei maravilhado. A qualidade dos pratos apresentados, a interpretação dos mesmos, o conjugar dos ingredientes, o uso de frutas com as ervas, utilizando uma expressão popular para definir isto "epá" maravilhoso. Simples, verdadeiro e emocionante, reconforta o estômago e a alma.

Depois de experimentar tantos pratos que lhes perdi a conta (qualquer coisa entre os 7,8), só não me foi mais comida servida porque realmente não conseguia comer mais, senão certamente continuava a ser surpreendido.
Depois de toda a confraternização com a Noélia fui para casa deliciado, motivado e inspirado para transpor para todos vocês uma “recriação” minha dum dos pratos que comi e adorei, decidi então honrar a sua criatividade.

Em relação à Noélia irei dar vos a conhecer futuramente numa entrevista que estou a desenvolver.

Das coisas que mais gostei foi a fusão da fruta com os variados pratos, framboesas, manga… Achei tão simples e tão sublime.

Começo por colocar numa panela com azeite em frio alho picado sem pedúnculo e gengibre picado. Coloco ao lume baixo para ir aromatizar o azeite e o alho não queimar. Deixo aquecer lentamente e junto o arroz para fritar um pouco e no final ficar mais solto.
Junto um pouco de manga, preferencialmente madura para dar um pouco de cor ao arroz e algum sabor e polvilho com canela em pó. Tempero com sal e pimenta.
Junto água quente ao arroz, usei arroz agulha, portanto a razão é o dobro em água da quantidade do arroz utilizado e deixo cozer.
Enquanto o arroz coze, pico um pouco de manga, agora poderá ser uma manga um pouco menos madura para ficarem uns cubos harmoniosos que libertem o sabor quando forem trincados.
Com o auxilio duma faca bem afiada faço umas lâminas do caule do broccollini e coloco as folhas ( uma espécie de bróculo mais leve no sabor) bem finas que pouco precisam de cozedura para dar uma textura crocante ao arroz.
No final coloco umas fatias de uma manga bem saborosa e umas lâminas de gengibre em pickle (caseiros), pico longitudinalmente umas folhas de coentros e sementes de sésamo e está pronto a ser servido. Sem palavras, só provando!

Um Arroz riquíssimo, equilibrado em sabor e textura.

Ingredientes para 4 pax: